o lado bom dos conflitos

O que podemos retirar de bom dos conflitos?

Olhamos para os conflitos como os maus da fita, como conversas a temer e que queremos evitar a todo o custo, mas os conflitos não são tão maus quanto parecem, pelo contrário, eles podem ser bastante construtivos e transformadores se soubermos como os abordar. Lê aqui o artigo completo!

O que vais encontrar neste artigo: 

  • a má fama dos conflitos
  • onde aprendemos a temer os conflitos
  • o que realmente podemos retirar de bom de um conflito
  • para poder retirar coisas boas do conflito timing e “vontade” importam

A má fama dos conflitos

Desde que o mundo é mundo que os conflitos nos têm acompanhado na edificação da sociedade tal como a conhecemos. Desde os conflitos de larga escala, aqueles que levaram à movimentação de povos, à luta por territórios, por poder, por matérias primas, aos conflitos ideológicos, entre religiões, culturas, ideias, aos conflitos interpessoais, entre famílias, casais, irmãos, colegas de trabalho, e tantos outros. 

Discordar, discutir, entrar em conflito faz parte da nossa natureza. Não porque sejamos seres violentos e sedentos por “arranjar problemas” ou aniquilar uns e outros mas porque, apesar de tudo o que nos possa aproximar, não deixamos de ser seres únicos, individuais, que pensam e veem o mundo à sua forma, moldada pelas suas experiências. Por este motivo, por cada um de nós ter um percurso e experiência de vida que é só seu, por termos necessidades particulares, por sermos tão diferentes, é absolutamente natural que a discórdia e o conflito emerjam.

Embora os conflitos possam acontecer em diferentes escalas e contextos, é importante ressalvar que a discórdia em si não é negativa, nem um bicho papão. Pelo contrário, ela é saudável e recomenda-se, é importante para fazer com que o mundo avance e tem também muitas benefícios para as nossas relações interpessoais, no entanto, a maioria de nós aprendeu a temer os conflitos, não só pela perspetiva de lidar com os mesmos, mas também pelas consequências que advém de conversas ou situações, potencialmente conflituosas, e o impacto que tais possam ter na nossa vida.

Onde aprendemos a temer os conflitos

A visão negativa que temos sobre os conflitos e que está tão enraizada na nossa sociedade não surge por acaso. Embora a discórdia e os conflitos tenham aspetos muito positivos, e que vamos explorar neste artigo, a realidade é que nós conhecemos o conflito no seu pior. Isto porque, quando ouvimos falar de conflito, talvez o que nos surge na cabeça são as guerras, as discussões acesas, a que provavelmente muitos de nós assistimos ou nas quais estivemos envolvidos, na infância ou ao longo da nossa vida, entre outros episódios. Então associamos a ideia de conflito a algo mau, isto é, algo negativo aconteceu, alguém fez ou disse algo que não devia ter feito, com que o outro não concorda ou foi lesado/vítima. Mas o que intensifica a nossa crença negativa sobre o conflito, vai além da causa ou do gatilho que provoca o conflito, na realidade o que molda esta visão é a forma como abordamos e nos expressamos perante estas situações mais desafiantes: 

  1. A carga emocional é forte, seja raiva, ansiedade, tristeza ou medo (lê mais sobre o impacto da raiva nas nossas conversas aqui), 
  2. São proferidas palavras duras, críticas, julgamentos, acusações e tantas outras vezes até insultos, 
  3. E por norma, culminam numa consequência ou algum tipo de punição.

Se pensarmos na nossa infância, na escola, como é que reagiam os professores quando não cumpríamos as normas da sala, como falar muito com os colegas do lado? Como reagiam os pais se não nos comportava-mos de acordo com as suas regras? Em adultos, como é que nós reagimos quando alguém faz algo que não nos agrada? 

Provavelmente, se parares para pensar, vais encontrar os 3 pontos mencionados em cima, presentes nas discussões ou conflitos dos quais tens memória e que possivelmente ajudaram a moldar a forma como te sentes e reages perante os mesmos. 

Mas como te dizia, mais do que o teor do motivo da discórdia ou do conflito, o que torna os mesmos assustadores ou estes monstros que queremos evitar a todo o custo, é a forma como aprendemos a lidar com os mesmos, isto é, como os experienciamos ao longo da vida, desde este olhar negativo. 

O que podemos retirar de bom de um conflito

Olhar para o potencial positivo do conflito pede-nos três exercícios poderosos, um deles é olhar e reconhecer o que vivemos ao longo da nossa vida e de que forma as nossas experiências também condicionaram essa visão. Tomar consciência de quem somos é fundamental para identificar as aprendizagens que fizemos que de alguma forma não nos apoiam quando este tipo de situação surge. O segundo exercício é permitir-nos aprender novas formas de lidar com os conflitos, que não só ajudem a reduzir a sua intensidade como os torna menos assustadores. 

E o terceiro exercício passa por construirmos uma nova história ou imagem sobre a ideia de conflito, isto é, começar a ver para lá do negativo e conseguirmos identificar os aspetos positivos que estes também podem trazer para as nossas relações. Abaixo deixo-te 6 aspetos positivos que podemos retirar de uma discussão, conflito:

1- Possibilidade de evoluir, de crescer
Os conflitos são uma excelente oportunidade para sairmos da chamada zona de conforto. Trazem-nos grandes lições e são ótimos impulsionadores de mudança e de crescimento pessoal. Sem discórdia, tudo permaneceria igual. É quando surge um conflito que nos vemos obrigados a olhar para as situações, a reavaliar aquilo que conhecemos e a tentar encontrar soluções.

2- Conhecer melhor a outra pessoa
Embora possamos achar que os conflitos são mais causadores de afastamento ou quebra entre pessoas, a realidade é que são uma oportunidade para conhecermos em maior profundidade a outra pessoa. Isto porque, como escrevi em cima, nós somos todos diferentes, e é natural que no decorrer das nossas interações essas diferenças venham ao de cima. Ao invés de nos focarmos nos aspectos negativos de discordar, podemos na realidade olhar para as diferenças como o que elas são, formas diferentes de ver e abordar a vida e certas situações. Essa informação em si é preciosa pois dá-nos a possibilidade de ver para além de nós, da nossa visão, das nossas expectativas e necessidades e integrar também as expectativas, necessidades, visão do outro. Esta visão mais ampla permite compreender melhor o outro, as suas ações, o que gosta e não gosta, os seus limites, os temas que são mais sensíveis para si, as coisas que para o outro são ou não são de grande importância e até onde posso ir ou não com aquela pessoa. É uma chance de aprendizagem e compreensão mútua que podemos guardar para futuras interações, que de certa forma, também ajudam a agilizar e minimizar o escalar dos conflitos.

3- Conhecer-me melhor a mim mesmo
Da mesma forma que um conflito me permite conhecer melhor o outro, também é uma chance para me conhecer a mim mesma. Às minhas emoções, às minhas necessidades, aos temas que são importantes para mim, onde estão os meus limites, no que sou capaz de ser flexível e no que me é mais difícil, quais os meus gatilhos e reações mais comuns quando me sinto engatilhado (fugir, lutar, congelar, etc). A maior parte de nós, quando perante um conflito, no calor da situação, tende a saltar para respostas reativas, a reagir a quente, o que também contribui para utilizarmos estratégias violentas e contribuir para a visão negativa que existe dos conflitos. Estar mais presente no decorrer de uma conversa mais difícil permite-nos começar a ganhar consciência dos nossos padrões e perceber também quais são os meus limites para permanecer ou não numa conversa ou que abordagens utilizo que poderia alterar, que me ajudem a conectar mais com o outro.

4- Explorar a criatividade e colaboração
Este é um ponto pouco explorado, que talvez seja comum numa sala de reunião ou entre equipas, mas que nas nossas relações pessoais é descurado, que é a possibilidade de explorar soluções criativas e colaborativas, em parceria com o outro, para resolver os desafios quando estes se apresentam. Um conflito é uma oportunidade para olhar algo que por algum motivo não funciona para uma ou ambas as partes, e que precisa ser alterado, transformado. É por isso uma chance, quando existe margem para diálogo, para explorar soluções criativas, que permitam incluir as necessidades de ambas as partes. Por exemplo, nas discussões entre casais, onde muitas vezes as pessoas ficam presas às acusações, a apontar dedos, a exigir reparação, ao invés de se manter este loop que não leva a lado nenhum, existe aqui uma chance de ambos se sentarem e escreverem, desenharem, pensarem em conjunto como podem solucionar o problema. Se a questão é desarrumação ou uma das partes esquece-se de fazer as suas tarefas, talvez um quadro com tarefas ajude, ou um lembrete no telemóvel, etc. A ideia é aproveitar o desafio e encontrar espaço para co-criar em conjunto.


5- Criar maior conexão com o outro
Inevitavelmente,relacionar com outros seres humanos coloca-nos neste risco de entrar em conflito mas, mediante a forma como escolhemos abordar esses desafios, também nos aproxima, também nos ajuda a conectar mais profundamente com a outra pessoa, quando existe esta chance de nos ficarmos a conhecer melhor e de em conjunto nos permitirmos procurar soluções para os nossos problemas. A intimidade ou as relações não são só feitas de sorrisos e momentos 100% felizes. São os desafios que fortalecem as relações. E os conflitos trazem-nos esta chance, de nos superarmos, de irmos mais além e de apesar das dificuldades, conseguir virar a página.

Para poder retirar coisas boas do conflito timing e “vontade” importam

Como em tudo na vida, naturalmente, os conflitos não são 100% bons. E quando te escrevo isto, refiro-me naturalmente aos conflitos que escalam, que resultam nas tais consequências que tanto tememos, tais como: guerras, violência, término de uma relação, despedimento, etc, ou aos conflitos que são abordados num ponto já de rutura/ limite, que acontece imenso quando deixamos acumular micro eventos que nos incomodam, não lidamos com eles no início, quando ainda poderiam ser resolvidos com maior facilidade, e deixamos para o limite, quando já existe um cansaço e carga emocional muito maior sobre a situação e que dificultam imenso o diálogo ou resolução. 

A par com o timing temos também a vontade”, isto é, por vezes nem todas as partes envolvidas num conflito estão dispostas a dialogar no sentido de chegar a uma resolução ou a cooperar, isto porque a “vontade” pode traduzir-se em “não conseguimos ver o mesmo caminho ou temos visões opostas”. É nestes casos que assistimos muitas vezes ao emergir de conflitos armados e ao escalar da violência. 

Por vezes nas relações interpessoais esta falta de “vontade” de cooperação é também uma falta de habilidade/ferramentas para lidar com a situação e nestes casos é lamentável que situações que poderiam ser resolvidas de forma construtiva terminem de forma trágica. 

Conclusões finais

No final do dia, os conflitos não são os maus da fita, estes têm um potencial incrível para fazer o mundo andar, transformar-se e evoluir. É graças às divergências que a sociedade também se tem tornado mais consciente e sensível às necessidades de cada e a mudar as suas regras em função dessa mesma evolução. É graças às divergências que nos afastamos ou aproximamos mais das pessoas, que crescemos e mudamos e estamos constantemente a aprender, sobre nós mesmos e sobre os outros. Os conflitos são necessários, apenas precisamos aprender a mudar a forma como os vemos e lidamos com eles. 

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