O que vais encontrar neste artigo:
- como surgiu a comunicação não violenta
- o que é linguagem violenta
- em que consiste a comunicação não violenta
- quais os três pilares da comunicação não violenta
- como a comunicação não violenta contribui para a paz
Marshall Rosenberg, um psicólogo americano, desenvolveu ao longo da década de 70 uma fórmula de linguagem, para facilitar o entendimento e conexão entre pessoas e quebrar padrões de violência na comunicação que separavam as mesmas. Mas que se desengane quem acha que a comunicação não violenta é apenas útil para quem tem uma linguagem violenta, pois este método abre-nos os horizontes para muito mais!
Estávamos na década de 60-70, numa America segregada racialmente, onde a divisão e tensão entre negros e brancos marcava a vivência diária da sociedade americana, quando, o jovem, Marshall Rosenberg, acabado de sair da faculdade de psicologia, percebeu que tinha uma missão.
Foi no decorrer da sua experiência a trabalhar com ativistas contra o fim da segregação racial e outros trabalhos realizados, por todo o mundo, enquanto mediador de conflitos, que Marshall Rosenberg acabou por desenvolver a ferramenta que hoje conhecemos como Comunicação Não Violenta, uma linguagem de compaixão, com o intuito de aproximar pessoas, quebrar padrões violentos de linguagem e criar espaços empáticos de escuta e expressão honesta onde todos se possam sentir vistos.
A violência na linguagem
Para compreender melhor a relevância da comunicação não violenta, também é importante compreendermos a extensão da ideia de violência na comunicação que fazemos todos os dias.
Para a maioria de nós, a ideia de violência está associada a atos mais extremos como: gritar ou insultar, mas a violência na linguagem vai muito mais além destas formas:
- Impor as nossas ideias ou soluções sobre a vida de outras pessoas, é uma forma de violência;
- Criticar, julgar, apontar o dedo ao outro é uma forma de violência;
- Exigir ou esperar que o outro cumpra com as nossas expectativas é uma forma de violência;
- Invalidar, minimizar, as emoções e experiências de outra pessoa é uma forma de violência;
- Assumir ou retirar ilações sobre a realidade sem ter toda a informação sobre a situação, é uma forma de violência;
- Não respeitar os limites do outro, é uma forma de violência;
- Desresponsabilizarmo-nos sobre o que acontece nas nossas vidas, sobre o que sentimos, e colocarmos toda a responsabilidade sobre o outro, é uma forma de violência;
- Inclusive, fazer tudo isto, connosco mesmos, na nossa cabeça, é também uma forma de violência;
Todas estas estratégias que trazemos para a nossa comunicação, e que no fundo são heranças do nosso passado, do nosso processo de socialização, da forma como fomos educados e aprendemos a relacionar-nos, ao causarem impacto emocional e tantas vezes trauma, são muitas vezes “armas” que usamos sem consciência, que ferem o outro, e que impedem que nos conectemos mais profundamente e que nos possamos ver e compreender na totalidade.
No que consiste então a comunicação não violenta?
A comunicação não violenta é uma metodologia de linguagem ou conversação, que nos vem ajudar a quebrar com estas estratégias e aprendizagens violentas que fizemos ao longo da vida, ao trazer para o centro das nossas conversas, até das mais difíceis, o foco na conexão. Isto é, ao invés de nos expressarmos de um lugar que tem única e exclusivamente foco na defesa dos interesses individuais de cada um, a comunicação não violenta convida a trazer-mos a nossa visão mas também abrirmos espaço para acolher o outro e a sua perspetiva.
Marshall Rosenberg acreditava que a maioria de nós aprendeu a expressar-se com foco em aspetos que não nos ajudam a conectar e a obter o que precisamos, pelo que este acreditava ser essencial, trazer luz e consciência para os aspetos que realmente potenciam o emergir da compaixão.
Para facilitar este processo, de trazer consciência para o que realmente importa, sem recorrer às estratégias violentas que nos habituamos a usar, Marshall desenvolveu um método, com foco em 4 passos:
1- Observação: descrever a ação que observamos, que de alguma forma nos afetou, de forma objetiva e clara
2- Emoções: explicar como nos sentimos em relação a essa ação
3- Necessidade: expor as necessidades, desejos, valores, por detrás dessas emoções
4- Pedidos: expor o que precisamos do outro em função desta situação
Os três pilares fundamentais da Comunicação Não Violenta
Em complemento a estes 4 passos, Marshall Rosenberg suporta a aplicação do seu método de linguagem em três pilares fundamentais: a escuta, a empatia e a humanidade compartilhada.
Sem escuta e sem empatia, sendo a empatia a capacidade de estar presente para receber, acolher a perspetiva do outro, sem invalidar, rebater ou tentar resolver, simplesmente oferecer a nossa presença plena, não seria possível realmente criarmos um espaço de conexão, pois para que todas as partes envolvidas se sintam vistas e as suas necessidades atendidas, ambos precisam poder trazer a sua expressão honesta (como veem, sentem a situação), e que a mesma seja escutada ativamente e acolhida com empatia.
Isto não significa concordarmos ou abdicarmos das nossas necessidades em prol do outro mas sim criar espaço para também compreender de onde o outro vem. O que nos leva ao terceiro pilar, a humanidade compartilhada.
A ideia de humanidade compartilhada, sustentada pelos dois pilares das Emoções e Necessidades, vem-nos relembrar que por maiores que sejam as nossas diferenças, no final do dia somos todos humanos, todos experienciamos a vida de forma única, todos sentimos e todos temos as nossas necessidades que procuramos satisfazer, e no fundo a forma como olhamos para as situações, que tantas vezes nos separa, é apenas essa necessidade de proteção das nossas necessidades. Mas quando percebemos que temos isto em comum, que é isso que compartilhamos, fica mais fácil perceber que para encontrar espaço para o diálogo e entendimento, é necessário reunir todas as perspectivas e perceber onde é que nos podemos encontrar!
Comunicação Não Violenta: uma ferramenta de educação para a paz e não violência
Marshall Rosenberg, era também um grande defensor do movimento da não violência, protagonizado por Mahatma Gandhi. Também para este psicólogo, que dedicou a sua vida a ajudar outras pessoas, tanto nas suas relações pessoais, como em contextos de conflito entre nações, profissionais, mudar a forma como nos expressamos não era apenas uma forma de vivenciarmos relações mais felizes mas também de contribuirmos para o todo, para um mundo com menos violência e mais capacitado para lidar com os desafios sem recorrer automaticamente à violência.
A comunicação não violenta é por isso hoje uma ferramenta utilizada por todo o mundo, nos mais variados contextos, e continua a ser uma referência para a mediação dos mais variados tipos de conflito!